O mês em que eu viajei de carro pela Argentina | Pequenos Pensamentos #56
Sobre minha primeira road trip num Celta - o resumo.
🎧 Mais uma playlist gostosinha para você ouvir enquanto lê ou trabalha.
2024 começou de uma forma bem inusitada para mim: em outro país. Para muita gente isso é comum, mas não para mim. Por inúmeros motivos que não vou listar aqui porque simplesmente não importam, o máximo que eu saí do país foram as menos de 24h que passei no Paraguai, para as clássicas comprinhas.
O fato é que meu esposo e eu passamos por uma fase de intenso crescimento pessoal e profissional, mas que também significou muito trabalho. Foi então que planejamos uma viagem de carro pela Argentina.
O motivo da viagem
A intenção não era somente “turistar”: nosso objetivo era visitar todos os lugares da Argentina onde estiveram as reduções jesuítico-guaranis. Temos um apego muito grande por essa história, que é parte muito importante da cidade onde meu esposo nasceu e de todo o Sul do Brasil.
Se você nunca ouviu falar dos 30 povos missioneiros, vale a pena aprender um pouquinho, é uma história muito rica que entrelaça o Brasil, Argentina e Paraguai.
Isso significou visitar 15 cidades diferentes. A bordo de um Celta. E tínhamos 15 dias de janeiro para isso, devido ao período de férias. Fizemos planos, roteiros, mas nossa organização desde o começo seria muito maleável, pois não sabíamos exatamente como tudo se daria - muito poucas pessoas fazem esse tipo de viagem.
Fizemos registros fotográficos e em vídeo que se tornarão em um material muito bacana mais à frente. Foram dias muito intensos.
O clima, contudo, colaborou: não tivemos um único dia de chuva. Já do dia seguinte ao nosso retorno ao Brasil, choveu direto até praticamente semana passada 😅. O calor foi intenso, e só quem já passeou pelo sul do Brasil no verão consegue entender, porque a Argentina consegue ser um pouquinho pior: parece que o buraco da camada de ozônio fica exatamente sobre a nossa cabeça, porque o sol arde mesmo.
Por isso tomamos o cuidado de beber muuuuita água - e nunca suei tanto na vida - e caprichamos na proteção solar. Mesmo aplicando e reaplicando o protetor, e sem nenhuma queimadura, voltei com algumas manchinhas no rosto 😢, pois a radiação estava absurda. Mas isso fica para a parte de cuidados com a pele agora nesse pós viagem.
Alguns pontos sobre viajar pela Argentina
Ficamos cerca de 2 semanas na Argentina. Não fomos às cegas, porque meu irmão havia ido a Buenos Aires em outubro, então tínhamos noção de como estava lá - e de que o câmbio já não estava tão favorável quanto na época em que ele foi. Mas após nossa estadia, há vários pontos que quero compartilhar com você.
Viagem de carro e trânsito
Em nossa experiência atravessando as províncias de Misiones e Corrientes, dirigir na Argentina é extremamente tranquilo. Ainda mais para nós, que temos o caos de Florianópolis e da BR-101 no currículo. Por ter uma rede ferroviária forte, há muito poucos caminhões nas estradas. Mesmo o movimento de carros era muito pequeno, viajamos grandes trechos sem encontrar ninguém.
Não sei se pelo período das férias, mas o fato é que mesmo nas cidades maiores como Posadas, que é a capital da província de Misiones, foi muito tranquilo dirigir. Percebemos também que os Argentinos não têm muito apego pela faixa contínua, e ultrapassam mesmo sem ser permitido. Também não há uma grande quantidade de postos de gasolina à beira da estrada, então nada de andar com meio tanque e contar com a sorte. No mais, super tranquilo.
Além disso, a qualidade das estradas é absurdamente boa, com pouquíssimos trechos ruins. Mesmo nas chamadas “rutas provinciales”, que vão para cidades muito pequenas, a qualidade se mantém.
Isso trouxe um benefício importante: com trânsito tranquilo, estradas sem grandes subidas ou descidas, sem precisar acelerar e frear a todo momento, e quem sabe com a boa qualidade do combustível argentino (?), nosso carro fez uma média de 21Km/litro durante a viagem. É claro, o Celta por si só é um carro econômico, mas dessa vez ele se superou.
Combustível
Os melhores postos para abastecimento sempre serão os YPF, que é estatal, e o Governo subsidia parte do valor da gasolina. Sendo assim, o preço é melhor ali. No entanto, é importante saber que turistas pagam mais caro pela gasolina na Argentina. Enquanto argentinos pagavam em torno de 800 pesos por litro, estrangeiros pagavam pouco mais de 1 mil. Enquanto estávamos lá, o valor para estrangeiros tornava a gasolina argentina mais cara que a gasolina brasileira - mas a rede YPF, mesmo assim, vale a pena frente às demais.
Porém, em algumas cidades menores foi comum os frentistas não prestarem atenção na nossa placa e cobrarem o valor normal. Nós só percebemos depois quando aconteceu, porque a conversão não é automática na nossa cabeça, então pedíamos para completar o tanque e pagávamos sem pensar muito nisso, rs.
A alta nos preços
Sim, os preços estavam bem maiores quando fomos em relação à quando meu irmão foi. Pessoas com quem conversamos relataram uma inflação de cerca de 200% nos últimos meses. Ainda assim, o câmbio estava a nosso favor, e a maioria das coisas ainda saíram bem mais em conta que no Brasil.
No entanto enquanto estávamos lá, mesmo em 2 semanas, bastante coisa mudou. Quando fomos compramos 190 pesos por real. Quando voltamos, só era possível comprar cerca de 165 pesos por real. A gasolina também subiu bastante. Chegamos com o litro da gasolina saindo a pouco mais de 800 pesos para os argentinos, e ao sairmos ela estava quase chegando nos 1.000 pesos.
Supermercado
O que percebemos nas cidades Argentinas: há poucos supermercados grandes como temos facilmente aqui no Brasil - hipermercados menos ainda. Nós não encontramos nenhum na verdade, só supermercados menores. O que há muito são os chamados “kioscos”, que são tipo esses mercadinhos de bairro, pequeninos, com itens básicos.
Também não há uma grande variedade de marcas para cada tipo de produto como temos aqui. Na hora de comprar legumes, frutas e verduras encontramos bastante vegetais meio passados e preços em sua maioria mais altos que no Brasil. Já itens como pães, queijos, e bebidas alcoólicas são bem mais baratos que aqui.
Um exemplo dessa disparidade: pagamos cerca de R$20 por 4 bananas. Cerca de R$18 por 4 tomates. E essa era a média de preço dos vinhos, com muitos custando em média R$15 🤷🏻♀️. Os doces de leite custam o mesmo que os brasileiros - mas com a qualidade argentina, claro.
Então vale a pena trazer doce de leite e bons vinhos na mala - só é preciso consultar as quantidades máximas permitidas nas aduanas.
As cidades
Não posso falar em relação às demais províncias argentinas, mas nas províncias de Misiones e Corrientes não temos grandes cidades. A maioria é beeeeem pequena e com estrutura bem simples. No entanto, a maioria das cidades pelas quais passamos são muito bonitinhas e bem-organizadas.
Também percebemos que há muitas academias, bem acima da média inclusive. Um exemplo foi a cidade de Apóstoles, com cerca de 30 mil habitantes. Ao irmos embora, só na rua principal, contamos cerca de 7 academias. E tivemos dificuldade de encontrar um supermercado, rs.
Também é muito difícil encontrar souvenirs nas cidades. Queríamos ter trazido qualquer coisa das que visitamos, contudo voltamos com exatamente TRÊS, e um ainda era da província de Misiones e não de uma cidade ou ponto turístico.
Outro ponto importante é a siesta. Eles levam a sério. Entre as 14h e as 17h, aproximadamente, a grande maioria dos estabelecimentos comerciais fecha. Ficam abertos apenas uns poucos serviços, como academias, algumas mecânicas e afins. Restaurantes e supermercados fecham nesse período. Regra geral as ruas ficam desertas. É preciso contar com isso no planejamento.
As pessoas
Todas as pessoas com quem conversamos foram extremamente gentis. Infelizmente o Brasil tem por padrão não ter o espanhol no currículo escolar da maioria das escolas, então nosso espanhol não era fluente - apesar de eu ter estudado bastante antes de ir e ter me virado muito bem.
Contudo as pessoas entendem bem o português e a comunicação é muito fácil. Claro que gastamos todo o nosso espanhol lá 🤣, até mesmo em respeito às pessoas, mas quando faltava alguma palavra dava tudo certo. E não achei que eles falam tão rápido quanto as pessoas nos advertiram. Com uma exceção, em que eu soltei um grande “HÃ?”, foi tudo ótimo, rs.
Comida
A comida, mesmo com a alta nos preços, era relativamente barata. As carnes são um caso à parte, sempre deliciosas por onde passamos. Não dá pra sair da Argentina sem provar as empanadas e as medialunas também. Elas são diferentes dos nossos calzones, por exemplo, apesar da aparência semelhante. Tudo o que comemos estava simplesmente delicioso.
O que nos surpreendeu foram os gelatos. Com o calor, comemos muitos gelatos. Há um estabelecimento em especial, a gelateria Duomo, que se você vir, precisa entrar e pedir um gelato. A qualidade é simplesmente absurda, o melhor que já provei. Super cremosos e consistentes, eles têm o sabor de cada tipo muito presente. O de doce de leite, claro, é imbatível. E o preço inacreditável.
A título de comparação, recentemente pedimos um gelato aqui na Bacio di Latte, que é conhecida por sua qualidade aqui no Brasil. O sabor e a consistência não têm comparação. Os gelatos da Bacio di Latte não têm o sabor tão presente quanto os da Duomo e as bolas são menores. E a diferença de preço é de doer: R$24 por 2 bolas na Bacio di Latte. Na Duomo pagamos 1.700 pesos, o que na cotação de hoje dá pouco mais de R$ 10.
Sempre há perrengues
É claro que como toda viagem - principalmente aquelas nas quais eu estou envolvida - há perrengues. Mas estes eu vou deixar para a próxima semana.
🥰 uma série legal
Eu estou numa fase muito dorameira - e esse é um caminho sem volta. Há uma série em especial, que concluí em janeiro, que indico com todo meu coração.
O nome dela em português é “O Rei Eterno”, e está no catálogo da Netflix. Com apenas 16 episódios e sem segunda temporada - o que eu tenho amado - ela conta a história de Lee-Gon, que é o Rei do Reino da Coréia. Ele teve seu pai assassinado na sua frente pelo seu tio, Lee-Lim, que tentou usurpar o trono, e uma peça rara de alto valor e poderes mágicos que permitem à pessoa que a possui viajar entre mundos paralelos.
Durante esse ataque, uma pessoa chega a impede a morte de Lee-Gon, com 8 anos na época. O pequeno Lee-Gon acaba pegando um crachá que estava no bolso dessa pessoa: o crachá da Tenente Jeong Tae-eul, que ele guarda consigo até a idade adulta. Lee-Gon usa o objeto mágico e vai parar em um universo paralelo, onde a Coreia é uma República. Com seu cavalo branco (um clássico) em uma cidade totalmente urbanizada, ele é abordado por nada mais nada menos que… a Tenente Jeong Tae-eul, que não faz ideia de quem ele seja, nem se lembra de ter estado em um universo paralelo - e nem poderia, pois quem o ajudou era adulto e ela seria uma criança na época. E a história se desenrola a partir daí.
Os personagens são cativantes, inclusive os coadjuvantes, que são cativantes. A história é repleta de momentos emocionantes e tem uma trilha sonora que é a coisa mais linda. Aí você me pergunta: você entende coreano? Não, mas eu faço como eu fazia quando era adolescente, amava músicas em inglês e não entendia a letra: busco a tradução, rs.
Abaixo, a cena que me fez querer assistir essa série:
🗣 Me conta
Qual a viagem mais bacana que você já fez?
Um beijo.
Até a próxima.