Pequenos Pensamentos #46 | É muito difícil encontrar a própria voz
Sobre a busca pelo tom ideal em um mundo às vezes totalmente novo.
Para você ouvir enquanto lê - voltei com o formato anterior.
👉 Lembrando: se o texto está colorido, é um link clicável.
Encontrar a própria voz é uma das coisas mais difíceis que há. Ter autenticidade em meio a um mar de pessoas que se destacam muitas vezes é como tentar colocar seu guarda-sol numa Ipanema lotada em pela temporada de verão. No entanto, como processo de aprendizagem, a identificação do famoso “tom de voz” não é sempre tão simples como muito gostam de fazer parecer. E nós vivemos em um mundo onde todo mundo faz tudo parecer tão fácil - basta comprar aquele curso ali.
Minha formação principal é em Pedagogia. Fui professora por 17 anos, tendo passado pouco mais de 2 anos apenas fora da sala de aula. Também fui Orientadora Educacional e Coordenadora Pedagógica. Na maior parte do tempo eu dei aulas em classes de alfabetização. O processo de aprendizagem, portanto, é algo íntimo para mim, porque eu o vi acontecendo em sua forma mais pura durante muito tempo. Entender como a aprendizagem acontece fazia parte do meu trabalho.
Todos passamos pelo processo de aprendizagem o tempo todo. E com todos ele acontece mais ou menos da mesma forma. Primeiramente você tem contato com o novo (um novo tema, um novo conteúdo, uma nova técnica, uma nova língua). Então, você começa a aprendizagem técnica da coisa. E a aprendizagem técnica passa pela repetição, pela “decoreba” e pela cópia - você faz a mesma coisa várias vezes, você copia uma fórmula, você decora a tabuada. Nosso cérebro precisa de uma rotina, precisa da segurança dessa repetição, dessa cópia, para acomodar o novo aprendizado. Com o conceito “decorado”, nós passamos a fazê-lo de forma automática, sem desgaste e sofrimento. É aí que ele se consolida como um aprendizado.
Na Arte, por exemplo, o uso das cópias na formação dos artistas eram - e ainda são - extremamente comuns, não no intuito de serem falsificações, mas no intuito de aprender e entender a técnica daquele artista em específico.
Nós aprendemos a fazer, fazendo.
Foi este meu intuito ao criar a newsletter: aprimorar a minha voz. Não para ser famosa nem nada do tipo, mas simplesmente para criá-la, desenvolvê-la. Eu já escrevo há décadas, então é claro que eu tenho uma linguagem própria. Capinei o lote dos blogs quanto tudo era mato. Já fiz vários trabalhos, no entanto, apenas nos últimos 2 anos decidi me dedicar exclusivamente à escrita, e viver dela. E na criação da newsletter eu me desafiei a experimentar formatos, fazer testes e encontrar a minha própria receita de bolo.
Nesse percurso, passei a consumir ainda mais o formato, a juntar referências, agregar uma ou outra. Indicar músicas. Usar marcadores para delimitar sessões. Indicar coisas bacanas que encontrei na internet. A conclusão a que cheguei é que, em termos de formato, todos fazem quase a mesma coisa. São a linguagem, e algumas formatações mais pontuais que dão a cada um o seu tom de voz especial, e os destacam dos demais. É uma linha bem tênue a que separa algo autoral de algo que todo mundo já faz. Porque, de fato, há limitações em qualquer formato. E muitas vezes você acredita estar fazendo algo novo - mas só até se deparar com alguém que já fazia isso antes de você.
Então, percebo que em muitos pontos eu cresci bastante desde as primeiras edições. Em outros há muito o que melhorar, e sempre vai ter. Quem acredita que já aprendeu o necessário ainda tem muito o que aprender. Sobre o que quero falar, para além de mim, e do meu ego? O que faz sentido para mim, mas também pode contribuir para outros? Quem acompanha desde o começo certamente percebeu cada mudança. E vai perceber muito mais.
Nesse mar de referências e gente bacana escrevendo, é muito fácil se sentir insuficiente, e sentir a famosa “síndrome do impostor”. Mas até isso faz parte do processo, e se tem algo que eu amo é aprender coisas novas. E não dá pra deixar de fazer algo porque alguém já fez, uma vez que esse alguém também se construiu a partir de referências. Tudo já foi feito. E é ter essa consciência que nos mantém humildes e com o pé no chão.
Essa quem sabe seja a vantagem dos “40 anos”: entender que não se sabe tudo e, por isso mesmo, se sentir livre para aprender. Além disso, minha caminhada enquanto educadora me permite compreender com gentileza esse processo. Às vezes há julgamentos, e não há como se impactar zero com eles. Mas com o tempo aprendemos a filtrar muito mais, e levar em conta só o que de fato faz sentido.
💛
A
, que está sempre gentilmente por aqui, me sugeriu falar um pouco sobre como foi deixar a medicação para a ansiedade, porque comentei na edição anterior que hoje sou uma ansiosa “desmedicada”.E o fato é que, após tantos anos sob medicação - no último antes do Burnout com medicação mais pesada - deixar a medicação foi como voltar a procurar minha própria voz também.
Quem sou eu sem medicação? Será que eu consigo passar por momentos difíceis sem ter o remédio pra me ajudar a dar conta? Como eu vou conseguir lidar com as pequenas ansiedades do dia a dia - a vida segue não sendo fácil? Tudo isso passa pela cabeça.
A verdade é que viver sem medicação em casos como depressão e ansiedade dá um medo danado.
Eu fiz o desmame bem devagar, com orientação do psiquiatra. Mas ainda sim, houve momentos em que parecia que eu tinha voltado à estaca zero. A tolerância à ansiedade fica muito baixa. E, querendo ou não, vivemos em um mundo ansioso e que nos empurra pra isso.
Por isso, além de manter as consultas com a psicóloga firmes, passei a implementar várias coisinhas pra me ajudar a evitar situações que me deixassem ansiosa, e outras para me ajudar a lidar com a ansiedade nesse processo.
Pra evitar situações mais ansiogênicas (que palavrinha, hein) eu criei uma rotina de organização pra mim. Essa rotina me deixava mais tranquila. Previsibilidade. No trabalho, dediquei um tempinho extra a ter sempre tudo pronto com antecedência, assim eu não ficava nervosa com os prazos. Mantenho isso até hoje.
Já para quando a ansiedade batia, eu usava técnicas de respiração como a da respiração quadrada, além de fazer playlists com músicas que me acalmam - músicas melancólicas, indie, acústicas e Lo-fi funcionam muito pra mim nesse sentido. Chás também ajudam, por incrível que pareça, mas não na hora da ansiedade em si. Eu costumo consumir chás quando me vejo em dias mais nervosos, digamos assim. Os que mais usei e senti que ajudaram foram o Chá Leão Relaxa*, o Chá Misto* amarelinho e o Adorme.Ser* da Dr Oetker, Twinings de Camomila, Mel e Baunilha* e os chás Sleep e Sweet Dreams da ArTea. Atividade física e contemplação (apenas observar tudo ao redor, em um lugar calmo) também ajudam demais.
Depois de um tempo de adaptação - 3 a 4 meses - tudo se estabilizou muito bem. Hoje em dia eu comemoro mais de 1 ano sem medicação. Nesse tempo tive 1 ou 2 crises de ansiedade, e leves, perfeitamente manejáveis. É como um muro construído por vários tijolinhos, mas que vai se fortalecendo com o tempo.
*este é um link afiliado da Amazon. Se você comprar através dele, eu ganho uma pequena comissão.
Nessa semana não vou fazer indicações, porque me envolvi com várias coisas e fiquei menos tempo rodando pelas redes. Minhas leituras foram mais técnicas.
Mas para a próxima semana, o “quadro” volta.
🥰 Me conta
Que recursos você usa para ser mais gentil com você no processo de evolução do seu trabalho?
Até a próxima.
Muito obrigada por essa edição da sua newsletter! Que maravilha saber que é possível fazer esse desmame da medicação! Sinta orgulho mesmo de você, isso é incrível! Vou anotar suas dicas aqui, adorei isso dos chás e dos sabores, porque é tanto chá que eu tenho dificuldade de escolher hehehe. Eu estou usando um app muito dos fofos chamado Finch para lidar com a saúde mental. É uma espécie de bichinho virtual e quando sinto que a ansiedade vai atacar uso ele para desabafar. Ele sugere algumas técnicas de respiração, tem sons relaxantes, tem alongamentos, yoga, controle de humor, práticas, é muito legal para lidar com o mental. Falando assim parece ser meio bobo, mas me ajuda tanto...
Obrigada mais uma vez por compartilhar sua experiência! ♥